Uma casa com arco-íris no telhado
A visão fraccionada e especializada do mundo é resultado duma sociedade em que os valores e as emoções não podem interferir no processo de produção. O indivíduo passa a ter uma visão parcial do mundo e portanto uma visão parcial de si mesmo.
A escola tem dificuldade em contrariar esta realidade e surge para produzir mão-de-obra para o mundo moderno em conformidade com essa exigência. Os saberes científicos dominam as matérias escolares, separa-se a razão dos sentimentos e das emoções e instala-se uma civilização racionalista.
Esses saberes e a sua valorização tradicional na escola levantam algumas questões de carácter pedagógico e formativo que me preocupam como formador e como artista. Na verdade, não há saberes mais ou menos importantes. A escola, enquanto espaço de socialização estrutural, deve valorizar relações de reciprocidade entre si, as artes e a sociedade envolvente e conciliar os saberes escolares com as vivências e afectos, também eles importantes para a construção do homem novo.
Assim podemos imaginar uma escola de cumplicidade, experimentação, desafio e reflexão que desperte o sentido crítico e portanto torne os jovens mais autónomos e intervenientes. Uma escola integrada na comunidade que, em articulação com outras instituições, potencialize recursos e apetências em prol do desenvolvimento da nossa sociedade.
Numa época em que a globalização está na ordem do dia e numa sociedade normalizada onde os comportamentos são ditados pelo consumismo, devemos ter em conta a diversidade social e a pluralidade de expectativas que a escola encerra.
A escola é como uma casa com arco-íris no telhado que alberga todas as diferentes formas de olhar o mundo.
É preciso continuar a questionar os modelos tradicionais de ensino, os conteúdos programáticos, a função social da escola e encontrar modos plurais alternativos orientados para a formação de públicos culturais. É preciso encontrar uma pedagogia onde em simultâneo se encontrem a unidade e a pluralidade.
As artes são um espaço interessante de análise e observação das relações humanas porque privilegiam o diálogo e valorizam as diferenças, daí a importância da sua inclusão efectiva na prática pedagógica, nos diversos graus de ensino, sem que isso constitua um fardo para a escola e para os seus protagonistas.
DV
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