O parente pobre
Todos sabemos das dificuldades que a nossa economia atravessa e os reflexos que isso está a ter em vários sectores da nossa sociedade. Será isto razão para algum imobilismo ou conformismo que se vive no nosso país?
Em minha opinião prefiro a polémica das ideias que um deserto delas. A crise económica não justifica a sua ausência.
A cultura é um terreno fértil que exige um ministério sensível, criativo, empreendedor e isento. Combater a burocracia, aproximar o poder político e económico da produção cultural e garantir uma maior descentralização são questões essenciais que merecem uma atenção especial e exigem da tutela uma maior determinação.
Vivemos num país em que a fruição cultural, apesar do engenho e dedicação de muitos agentes, ainda só existe para uma minoria da população. Não fora a intervenção das autarquias em colaboração com as escolas e estruturas culturais e desportivas (desporto também é cultura), continuaríamos a viver dependentes da macrocefalia lisboeta. É claro que a iliteracia e a incultura, razões subjacentes a este problema, são uma realidade em todo o país mas é sobretudo fora dos grandes centros urbanos que mais se faz sentir. Onde estão, por exemplo, os programas concertados e a interacção entre o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura e as autarquias que permitam aos nossos jovens um maior acesso aos eventos culturais e lhes despertem o interesse pelo teatro, pela dança, pelo património, etc? Não são concerteza os investimentos na cultura que vão agravar o défice já que as verbas destinadas a este sector são uma parcela ínfima e ridícula do Orçamento Geral do Estado.
Um país que se quer moderno e Europeu não pode continuar a viver ao arrepio dos seus pares. Sem desenvolvimento cultural não há desenvolvimento económico. Além do mais, não basta racionalizar os meios financeiros e humanos, é necessário mudar também mentalidades. Se é do senso comum que da cultura depende a identificação de um povo, por que razão só nos debruçamos sobre estas questões quando temos os bolsos cheios?
Recuso a ideia de um estado que se limite a tolerar a cultura como um fardo oneroso e que olha para os seus «actores» com a mesma frivolidade que se olha para um pedinte ou um parente pobre.
DV
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